Antonio Malva Neto, o Netinho tinha joie de vivre, era um bon vivant, um playboy usufruía de todas as regalias que as posses da família lhe proporcionavam.
Sofia, com a morte do pai, assumira os negócios da família. Comandava tudo com delicadas mãos de ferro. Em pouco tempo expandira as exportações de cacau e pasta de banana que fazia muito sucesso nos Estados Unidos. A construtora ganhava quase todas as licitações, ainda que por influencia do nome Malva. Tocavam obras pelo Brasil afora. Recentemente fora convidada a participar do consorcio que esta reconstruindo o Iraque depois da guerra. No final do ano anterior abriu um escritório em Lisboa, pois conseguira entrar com suas bananas na União Européia.
“Sorte nos negócios, azar no amor”. Esta máxima lhe caíra muito bem, aquele era o terceiro casamento que acabava.
Sofia ficou alguns anos em Fortaleza, terminou seus estudos na cidade formou-se em História. Um ano após se formar estava casada com um assessor da Presidência da Republica. O casamento durou heroicamente quatro anos. Nos corredores palacianos, todos diziam “eles não formam um casal, não foram feitos um para o outro”. O casamento se deu por arranjo do coronel Toninho Malva. Sofia vivia entre Fortaleza, Ilhéus e o Rio de Janeiro, onde era a Sede do Governo até o final do casamento. O coronel Malva decidira ficar mais perto dos negócios e se mudou para sua fazenda de cacau. Com a separação, Sofia decidira mudar-se para Ilhéus, pois assim poderia lecionar na cidade ou até mesmo em Itabuna e assim ficar mais perto do pai. Aos poucos Sofia foi se inteirando dos negócios da família e fazia varias viagens para o Rio e São Paulo. Numa destas viagens conheceu um diplomata que se apaixonou por ela e propôs-lhe casamento. Sofia casou-se pela segunda vez. Devido ao trabalho do marido viveram vários anos fora do país. Aquele foi, dos seus relacionamentos, o mais estável, durou cerca de dezesseis anos e rendeu-lhe um casal de gêmeos. E por fim, fora o Dr. Jairo, renomado cirurgião. Viveu com ele aproximadamente oito anos.
Sofia não passava despercebida onde quer que esteja. Logo fora notada e admirada ao entrar no saguão do Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim. Sofia estava deslumbrante com uma saia branca rodada com grandes pois brancos, uma blusa preta com frente única, um echarpe cor de abóbora cobria-lhe os negros cachos de cabelo e grandes óculos escuros escondiam um lindo par de olhos azuis. Um misto de anos 60 e 70, em uma das mãos carregava uma frasqueira de viagem Victor Hugo e na outra segurava a coleira de Shenna, uma linda cadela Pastor Maremmano que sempre a acompanhava.
Maria, sua secretaria particular se aproxima depois de certifica-se que tudo estava pronto para o embarque. Ao passar pela porta de vidro que separava o saguão da área de embarque, algo fez Shenna se ater do lado do saguão, retardando a caminhada de Sofia até o avião. Ao virar-se para puxar a coleira, Sofia notou pelo vidro um perfil familiar entrando no restaurante do outro lado do saguão. Ela viu um negro alto, vestindo um belo costume, pelo corte um Kenzo com certeza. Ficou paralisada observando o homem entrar no restaurante, sentiu seu coração bater mais forte e não teve duvida, era Vitório. Maria aproximou-se, Sofia o piloto nos espera. Ela tentou falar alguma coisa, mas não encontrou palavras. Você esta bem, posso ajudá-la? Sim, sim...Estou bem...Acho..., pensei ter visto um velho conhecido.
Sofia observava pela janela a beleza do Rio de Janeiro. A lagoa, o Cristo, os urubus... já vira aquela paisagem diversas vezes, mas naquele dia o céu parecia ser mais azul, e o Sol ter mais luz.
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