Quem é esse cara?

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Por Claudio C. D’Orazio - Incluindo-me em análise de uma vida mal dormida, Afonso disse que nós que havíamos sido quase artistas, sabíamos do que se tratava. Não concordei, exatamente, com aquilo, mas nada disse. Digo agora... Ao Afonso, tudo interessa. Música, dança, literatura, pintura, escultura, dramaturgia, o sexo das formigas, os vulcões, as tartarugas, todas as palavras, outras palavras, todos os povos, enfim, todas as coisas... Trata-se de um apaixonado, assim, poderia discorrer sobre qualquer coisa, com algum conhecimento. Ligar-me a ele, como quase artista, foi de uma gentileza enorme. Somente os que não dormem, motivados por tamanha paixão podem usufruir de definição tão complexa. Questiono-me mesmo assim o que vem a ser um artista e por conseguinte um quase-artista. Em minha análise modesta, o Afonso sempre foi um grande artista, não publicado, entretanto,agora sendo resolvido. Seus desenhos, seus poemas suas críticas artísticas influenciaram-me de uma forma marcante, decisiva, por onde vou o carrego comigo, vocês, doravante, o carregarão com certeza, sendo marcados por sua criatividade e multiplicidade, é o que pensa e deseja este aspirante a quase-artista.

domingo, 19 de dezembro de 2010

III Todo fim é um recomeço (continuação)


Chegou na rodoviária do Rio as seis horas da manhã, como não descera em nenhuma parada, tinha fome. Deixou sua mala num guarda-volumes e saiu para conhecer o lugar e procurar um local que pudesse tomar café. Os lanches vendidos na rodoviária eram caros e àquela hora da manhã o aspecto não era agradável.
Andou alguns quarteirões e se perdeu, já não sabia mais onde estava, tudo era muito diferente de Jericozinho. Num primeiro momento ia entrando em desespero, mas deduziu que não tinha andado tanto assim, e a rodoviária não deveria estar muito longe. Decidiu procurar uma padaria e tomar um café. Dobrou uma esquina e, como que por encanto uma padaria se materializou do outro lado da rua. O dono estava colocando um cartaz na porta escrito “Precisa-se de auxiliar de padeiro”. Vito apressou-se em atravessar a rua para falar com o homem.
O armazém de Seu Benê vendia pão fresquinho e quem os assava era Vitório desde os treze anos de idade.
Apresentou-se ao dono da padaria dizendo que queria o emprego. Seu Manoel olhou o rapaz e disse num forte sotaque lusitano, Ora gajo, sabes mesmo assar pães, pois pagarei como auxiliar, mais preciso mesmo é de um padeiro? Sei, sim senhor. No armazém de meu pai, eu era quem preparava a massa e assava os pães que vendíamos. Aprendi o oficio ainda criança e desde então era encarregado de fazê-los. Pois prepara-me então uma fornada, se gostar o emprego é seu. Já tenho massa pronta é só cortar e assar. Senhor será que posso antes tomar um café e comer um pão, cheguei a pouco da Bahia e não comi nada desde a tarde de ontem?
Vitório até esqueceu que estava perdido, tomou seu café e foi logo preparar a fornada.
Algumas horas mais tarde os pães estavam sendo vendidos no balcão e o “portuga” recebendo elogios, pois os pães daquela manhã estavam no ponto certo. Ao receber os primeiros elogios Seu Manoel, disse a Vitório que continuasse a assar pois o emprego era dele.
Grande foi sua empolgação que nem se deu conta do que estava acontecendo. A tarde seu Manoel combinou o salário, que era pouco, mas dava para ele começar, Os negócios não andam bem, com o tempo, melhorando as coisas eu o promovo a padeiro e lhe dou um aumentinho,   rapaz!
Vito saiu da padaria sem saber para onde ir, escolheu voltar pela rua de onde viera pela manhã. Ao dobrar a esquina encontrou uma senhora e pergunto a ela como chegar à rodoviária.
No caminho de volta foi pensando que realmente tudo estava a seu favor. Mal chegara na cidade e já estava empregado. Só tinha um problema a resolver, a moradia. Vitório não conhecia nada ali, e não sabia nem por onde começar. Achou por bem passar a noite ali mesmo nos bancos da rodoviária, depois do trabalho tentaria resolver aquele problema. “Quem sabe seu Manoel não conhecia algum lugar que eu possa ficar...”, pensou ele antes de adormecer no banco fazendo sua mala de travesseiro.
Quando Vitório despertou já eram 4:30h, e o combinado era às 3:00h. Vito pegou sua mala e sai apressado seguindo a direção que tomara na manhã anterior, não sabia ao certo o caminho para padaria. Tropeçou em alguns bêbados caídos na calçada, desvencilhou-se das prostitutas e seus convites indecorosos. Já exausto de tanto andar, lá pelas seis da manhã encontrou a padaria. De longe viu o português com a placa nas mãos. Ao chegar explicou a ele o seu caso e como muitos fregueses já haviam cobrado o pão do dia anterior, seu Manoel achou que seria melhor relevar, Tu podes ficar, mas descontarei o atraso em teu ordenado. Agora vá para dentro e comece o seu oficio, a tarde veremos se damos jeito no seu caso.

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